Luciano Luz de Lima

Junho de 2013

Luciano Luz de Lima
Advogado, doutorando em Política Social e Direitos Humanos pela UCPel, dirigente estadual do PT
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Recente e pertinente reportagem do Diário Popular tratou os dez anos do "Junho de 2013", o que me leva a abordá-lo aqui, reproduzindo considerações baseadas em estudos de André Singer, Jessé Souza, Barnabé de Souza Filho, Carolina Scherer e outros, que expus sobre o assunto no livro Dependência e política _ A alteração dos condicionantes externos e o golpe de 2016.

Em junho de 2013 as manifestações na capital paulista organizadas pelo Movimento Passe Livre contra o aumento das passagens do transporte coletivo foram tratadas inicialmente como "vandalismo", mas rapidamente vão sendo incentivadas, apropriadas e ressignificadas pela grande imprensa e a direita política.

As políticas compensatórias dos governos petistas possibilitaram uma ascensão das classes populares através de acesso ao Ensino Superior. Mas a não correspondência em empregos bem pagos e serviços de saúde e transporte, agora mais demandados, de boa qualidade, geraram um descontentamento que poderia tensionar um avanço do projeto político em curso, mas não foi o que se viu.

Singer, ainda em 2013, apontou três fases dos acontecimentos. A primeira, de 6 a 13 de junho, marcada pela mobilização em torno do valor das passagens e objeto de forte repressão policial. A segunda, de 17 a 20 de junho, marcada por demandas difusas se direcionando contra os governos, em especial o federal, e com grande cobertura midiática. E a terceira, de 21 até o fim de junho, marcada por pautas específicas como a redução de pedágios, derrubada da PEC 37, protesto contra o programa Mais Médicos, etc.

Com base em pesquisas, Singer conclui que os protagonistas dos acontecimentos eram jovens (12 a 25 anos) e jovens adultos (26 a 35 anos) oriundos do "novo proletariado" que ascendeu ao Ensino Superior e ao mercado de trabalho em condições precárias, e da classe média tradicional. Essas duas camadas sociais vão dividir o caráter das reivindicações e sua evolução.

A fração da classe média moralista e conservadora ocupou seu pretenso papel de "representante" da sociedade brasileira e tomou as ruas bradando palavras de ordem contra a política, os partidos, em especial o PT, em defesa de uma moralidade abstrata que traduz, na verdade, o medo de ver ameaçados seus privilégios na hierarquia social.

O direcionamento das manifestações para atacar o governo do PT obedeceu ao mesmo padrão das chamadas "revoluções coloridas". No Le Monde Diplomatique em 2018, Barnabé de Souza Filho abordou o golpe no Brasil e a reorganização imperialista sob a globalização, expondo o método utilizado nas revoluções coloridas, recorrendo a estudos como o de Carolina Scherer, da Faculdade de Economia da UFRGS, levantou dados sobre a participação dos Estados Unidos no financiamento e treinamento de ONGs no leste europeu.

A USAID, a Open Society, do bilionário George Soros, e o International Republican Institute, ligado ao Partido Republicano, foram fontes de financiamento de ações como o uso sofisticado das redes sociais e das tecnologias de informação em geral. Reivindicações legítimas da população em países como Sérvia, Bielorrússia e pouco depois no Egito foram capturadas e dirigidas por grupos treinados e financiados pelos Estados Unidos. O artigo afirma que o mesmo processo esteva presente em junho de 2013 no Brasil.

Nessa esteira, em 2013, se forjou uma aliança poderosa das empresas de comunicação e fração da casta jurídica do País, lançando bases para a Lava Jato e resultando na constituição do solo fértil para semeadura do golpe de 2016.

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